quarta-feira, 14 de julho de 2010

Poesias da minha amiga Brasilina

O SILÊNCIO DAS PALAVRAS

Mergulho no silêncio das palavras.
Como um náufrago, busco aquele ponto
em que uma asa balança em pleno vôo
pra me livrar da sensação de peixe no aquário.
Não sei voar.
Minha forma de ser livre é meu delírio:
quando adentro o universo do poema
e vou nascendo len-ta-men-te...
até encontrar o verso que me salva.

Basilina Pereira

A PERGUNTA

Bem que o ano até tentou
desfolhar o mal-me-quer
mas qualquer coisa faltou
diga-me o quê, quem puder.

E assim vem o novo ciclo:
vária paisagem se mostra,
e nós seremos, como é dito,
outros diante da porta?

Esta pergunta tão dura
vaga há tempos no escuro
e a resposta se mistura
ao sonho aceso – futuro

que acena longe e perto
no tom da inquietação,
quer enfrentar o deserto
ser mais que boa intenção.

Basilina Pereira



A LÂMINA

A lâmina que dilacera a partida
não deveria ser afiada: NUNCA!
Mas escondida,
bem lá no fundo do abismo,
onde não pudesse avistar o beijo,
na despedida,
nem roubar-lhe o sabor de morangos.

Basilina Pereira


O DESEJO

Insano desejo – este -
que se alegra ao me assediar,
açoita a minha face
e quebra o verniz da abelha
na sua jornada sensata de toda manhã.

Doce arrepio,
que arde como pimenta,
confunde as artérias enlouquecidas
e tece brumas espessas
sobre a pouca lucidez da hora.

E os meus versos, que eram castos,
rendem-se ao gosto obsceno das palavras
até tombarem, exaustos,
no hálito sensual da tua voz.

Basilina Pereira



A OUTRA

Quem é esta que me habita
e se faz tão estrangeira,
peregrina em seu dossel?
Eu sou pouco e ela plena
de ousadias tão libertas;
eu escondo e ela exibe
a insensatez em seus versos.
Quem é esta que me cobra
estradas longas, veredas,
audácia de cordilheira, barulho de cachoeiras?
Eu sou cinzas, ela é brasa,
se caminho, ela corre,
na escuridão dos meus dias
ela planta vaga-lumes.
E por fim me desafia:
a voar por entre as letras,
a plantar versos num mergulho
e a sentir como um poeta.

Basilina Pereira

ALÉM
A chama que arde em meus pensamentos
não foi feita para queimar.
Sinto seu fragor e ouço o seu crepitar
no fundo de minhas retinas e choro...
são fagulhas de ousadia
que, de repente, pedem asas sonoras,
bem mais amplas que a liberdade.
Não sei a que posso aspirar mais do que sinto.
Mas quero!
Quero viver o dia seguinte
e inventar um passo que me permita ir além...
mesmo sem voar.
Basilina Pereira

A PALAVRA

A palavra é irreversível...
não tem volta nem poente,
voa com o vento, invisível,
pode queimar, de tão quente..

Passam os dias... os anos
e seu eco permanece...
nas mágoas, nos desenganos
ou no afago que aquece.

Por tão afiado alcance
é majestosa e singela,
traz das cores a nuance
e a condição de ser bela.

Mas cuidado com a palavra,
que é lança de muitos gumes,
se por vezes tira a trava,
em outras apaga a lume.

Basilina Pereira

Nenhum comentário:

Postar um comentário

baos vindas

oi